natalia rostovskaya » Вс апр 25, 2010 16:27
Всем, желающим принять участие в следующем португальском семинаре, предлагается для ознакомления микро-рассказ (зарисовка, этюд и т.д?)
Текст, найденный в португальском журнале Narab'ой, отсканировал Alien.ru.
Opinhão Crónica
António Lobo Antunes
Trabalho Casa
A minha vida é trabalho-casa, disse ela. Aos fins de semana vai ao supermercado, depois engoma, passa a ferro, limpa. Uma manhã por mês consulta no médico para regular os diabetes. Suspiro:
- Se fossem só os diabetes
e não são só os diabetes, é o colesterol, a tensão, o problema dos ossos.
O trabalho, esse, é na contabilidade de um escritório: duas horas de transportes para cá, duas horas de transportes para lá. Em tempos teve um carro mas o preço da gasolina, mas o preço do seguro, mas o preço da oficina, de modo que o carro está à porta, quer dizer um bocadinho adiante da porta: um sem abrigo dorme no banco de trás, embrulhado em jornais, na companhia de umas garrafitas, a cobrir-lhe os estofos de cascas de laranja. Ultimamente um gato acompanha-o. O sem abrigo chama-se Senhor Peixoto, andou anos a penar na construção até que o joelho deu de si e largou os andaimes. Falta-lhe um dedo e meio na mão esquerda
- Falta-me um dedo e meio na mão esquerda
anuncia a exibir a manga. A mãe do Senhor Peixoto dá idéia que teve instrução
- Até piano havia
mas o senhor Peixoto dava-se mais à moinice
- As mulheres, compreende
ainda foi angariador de seguros mas enfiou as unhas na caixa
- Sem dinheiro não querem saber da gente
de modo que se mudou para os andaimes até o joelho dar de si. À terceira queda o patrão substituiu-o por um preto qualquer
- Um preto qualquer, veja bem
e nem mulheres nem seguros, fominha.
A do trabalho-casa compreende
- É a vida
e aceita-o nos estofos. No inverno entrega-lhe umas serapilheiras para enganar o frio.
- Tome lá, Senhor Peixoto
o Senhor Peixoto, que não perdeu a galanteria
- Obrigadinho, madame
a coçar-se
- Não leve a mal, madame
porque o drama dele sempre foi a pele, herdou de um tio das classes altas, sargento, a delicadeza da epiderme.
- Os ricos, já se sabe, parecem forrados a seda
e o Senhor Peixoto seda também, que se dá mal com trapos e estofos:
- Nasci para lençóis em condições, mas o que se há-de fazer?
A do trabalho-casa está a par, o marido também foi niquento: a questão não era a pele, era a asma, tudo lhe dava asma até que uma primavera com mais pólenes o apagou como um passarinho
- Disse-me adeus com as pestanas
passou do pijama para o fato dos domingos, numa urna quase de mogno, não bem mogno, que o mogno é caro, mas praticamente mogno, nem de perto se notava a diferença, e agora habita uma gavetinha de ferro, entre dúzias de gavetinhas de ferro, no muro do cemitério da terra dele, Abrantes, a fim de os parentes o acompanharem, cada qual a espirrar para seu lado o que sobeja da asma: umas cinzas sobressaltadas, visto que o mundo inteiro sabe que as alergias não descansam. O senhor Peixoto, a quem os cromossomas do tio sargento forneceram cultura e sensibilidade, apoia
- Um tormento
a alastrar nos estofos, pede-me que lhe confirme as noções
- Explique lá você, senhor Antunes, que foi médico
garanto que sim, as asmas são tenazes, pulam a eternidade inteira, a do trabalho-casa ajuda-me.
- Quando está tudo calado juro que lhe oiço os soluços
e ficamos os três à espera, em silêncio, mas por embirração o defunto não se manifesta:
- Sempre fez só que o quis
suspira a do trabalho-casa deixando subentendidos séculos de teimosia aborrecida pontuados por.
- Não me apetece
insuportáveis. Que idade terão ambos, o vagabundo e ela? Por mim sugeria-lhe que o levasse para o seu rés-do-chão: podia limpá-lo e engomá-lo aos domingos, juntamente com os lençóis e as toalhas, ficar a vê-lo andar à roda no óculo da máquina: talvez que, do meio da espuma, lhe piscasse o olho. Vontade de perguntar
- Há quantos milênios não lhe piscam o olho, minha senhora?
mas embora sem um tio sargento possuo algum decoro e calei-me. A do trabalho-casa vislumbrou qualquer coisa
- Ia fazer uma pergunta, senhor Antunes?
esperta como um alho o raio da velha, mas apressei-me a girar a caveira horizontalmente
- Nenhuma pergunta, minha senhora, já me chamaram a atenção que volta e meia tenho um ar esquisito
e a do trabalho-casa, subitamente maternal, aconselhou-me
- Devia casar-se, sabia?
E talvez devesse casar-me, realmente, arranjar uma criatura em condições que me tirasse, em simultâneo, as espinhas do peixe e as da alma, me pusesse a pasta na escova e me tratasse por Biju. Quando eu era pequeno a mulher sumptuosa do farmacêutico tinha um cão chamado Biju. Ficava à janela, de Biju ao colo, a fumar cigarros lentos, inacessível, e eu cheio de formigueiros na planta dos pés A propósito de casamento, e já que estamos nisso, a mulher do farmacêutico será uma criatura livre agora?
Рассказ этот и в оригинале напечатан с прерывающимися предложениями. По всей вероятности, это такой авторский оригинальный прием.
Текст свеженький, от 15 апреля 2010 года, непростой. Стиль тоже непростой. Пусть каждый, кто возьмется переводить, получит удовольствие от работы.
Итак:
ДАТА ОТКРЫТИЯ СЕМИНАРА № 4: 25 АПРЕЛЯ 2010 ГОДА.
ДАТА ПРЕДОСТАВЛЕНИЯ ПЕРЕВОДОВ: 11 МАЯ 2010 ГОДА.
НАЧАЛО ОБСУЖДЕНИЯ: 12 МАЯ 2010 ГОДА.
ВСЕМ БОЛЬШИХ УСПЕХОВ!